sábado, 19 de novembro de 2016

O SENHOR DAS OSSADAS



 Foi um encontro fortuito e desconcertante, mas, acima de tudo, foi uma coincidência decisiva. Em outubro de 1834, Peter Lund, naturalista dinamarquês - homem refinado, culto e rico, amigo pessoal do filósofo Sóren Kierkegaard -, cavalgada pelo mar de morros areentos e chapadões requentados do cerrado de Minas Gerais. No vilarejo de Curvelo, parou para descansar numa taberna imunda á beira da estrada. Lá, acabou deparando com o também dinamarquês Peter Claussen, um sujeito em tudo diferente dele: brutal, ganancioso e rústico. Ainda assim, aquele seria um momento fundamental não só para o próprio dr. Lund mas para história da ciência. Foi Claussen quem conduziu Lund ás grutas repletas de ossadas de animais antediluvianos dispersas por todo o vale do Rio das Velhas. Aqueles eram os primeiros fósseis encontrados no trópico, e a eles Peter Lund dedicaria o resto de sua vida. Durante meio século, passados nas mais árduas condições, Lund se entregou ás páginas de pedra do grande livro que, ao longo dos milênios, a natureza  havia composto nas reentrâncias encantadas das grutas calcárias de Minas Gerais. Penetrou em mais de 200 cavernas e identificou as ossadas de 115 mamíferos pré-históricos. Em 1843, depois de descobrir fósseis como os do megatério e de visitar inúmeras vezes a soberba gruta de Maquiné, Lund fez a mais espantosa de suas descobertas: os ossos do Homem de Lagoa Santa - os mais antigos vestígios humanos até então encontrados no Novo Mundo. Apesar de nunca mais ter saído de Minas Gerais, Lund - cujo trabalho era financiado pela sociedade de Ciências de Copenhague - tornou-se famoso na Europa, sendo citado por Chales Darwin (de quem discordava), no clássico A ORIGEM DAS ESPÉCIES. Lund escreveu mais de 40 livros sobre a fauna e a flora pré-históricas do Brasil, a maior parte deles ainda inédita em português. Morreu em maio 1880 e está enterrado na sua amada Lagoa Santa.

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